quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Quão funcional suas crianças deixam a UTI?... uma conversa sobre PICS e FSS

Olá, meu nome é Fernando Acácio Batista e eu sou Fisioterapeuta especialista em fisioterapia em terapia intensiva adulto, além disso sou professor de ventilação mecânica tema que adoro e leciono em algumas especializações. Venho aqui deixar disponível para quem tenha interesse meu curso e e-book.

Cursos de atualizações em VM: https://fernandoabatista34.wixsite.com/website
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Quão funcional suas crianças deixam a UTI?... uma conversa sobre PICS e FSS

Quem atua em unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP) não raro presencia crianças que recebem alta da unidade com significativa perda funcional em relação ao status pré internação na UTIP. Os avanços tecnológicos sem dúvidas reduziram sobremaneira a taxa de mortalidade de crianças graves, mas será que temos nos preocupado do fato em como estamos devolvendo essas crianças para a sociedade? Será que os profissionais que atuam em terapia intensiva pediátrica têm noção do impacto social, psicológico e financeiro que esse déficit funcional gera na família como um todo?
O termo “Síndrome Pós-UTI” ou “Síndrome Pós-Cuidados Intensivos” (PICS) tem sido utilizado para descrever um conjunto de sintomas presenciados em crianças que passaram por estado crítico, mesmo meses após a alta hospitalar. Tais sinais e sintomas vão desde prejuízos físicos, como complicações neuromusculares periféricas, disfunção diafragmática e piora da função pulmonar até distúrbios cerebrais e psicológicos, tais como Delirium, depressão, ansiedade, entre outros (1). São achados que persistem a longo prazo, causando alterações clínicas, funcionais e psicológicas, e que em se tratando do público pediátrico pode, inclusive, estender-se aos pais (2).
                                                  Fig. 1: criança realizando treino com cicloergômetro na UTIP.

Novamente a MOBILIZAÇÃO PRECOCE (Fig. 1) surge como alternativa para se minimizar tal processo patológico e seus respectivos impactos. Todavia, faz-se necessário uma quebra de paradigmas (Fig.2) no sentido de se pôr em prática o que se discute há muito tempo apenas no âmbito teórico. É preciso, de uma vez por todas, entender que a fisioterapia em terapia intensiva pediátrica não se limita à terapia respiratória. Uma das barreiras a este tipo de intervenção e que está intimamente relacionado à PICS é o uso prolongando de algumas drogas (1) como benzodiazepínicos, bloqueadores neuromusculares e corticoides (ilustrado ironicamente na figura 3).          
                                 Fig. 2: metáfora sobre iniciativa para quebra de paradigmas.

Uma revisão sistemática publicada ano passado (2017) no World Journal of Critical Care Medicine (3) afirmou que a PICS é gerada por morbidades muito bem descritas em crianças que sobrevivem a estados críticos e levantou os principais fatores de risco: menor idade, menor status socioeconômico, maior número de intervenções e utilização de sedativos e narcóticos.
                                               Fig. 3: meme ironizando barreira à mobilização.

Neste sentido, faz-se necessária uma preocupação com o nível funcional da criança ao receber alta da UTIP, devendo o mesmo ser considerado como o principal indicador da equipe de fisioterapia que atua neste setor. Este ano (2018) tivemos o privilégio de ter a Escala de Status Funcional pediátrica (FSS) traduzida e adaptada para a cultura do Brasil (4). Ela foi desenvolvida e fundamentada nos conceitos de Atividade de Vida Diária (AVD) e de comportamento adaptativo. É uma escala de avaliação do escore funcional nos domínios motor e cognitivo, especificamente desenvolvida para pacientes pediátricos hospitalizados. Caracteriza-se por ser um método quantitativo, rápido e confiável, aplicável a qualquer faixa etária.
A escala é composta por seis domínios: estado mental, sensorial, comunicação, função motora, alimentação e respiração. Cada domínio recebe uma pontuação de 1 (normal) a 5 (disfunção muito severa), portanto seu escore total varia de 6 a 30, sendo categorizada da seguinte forma:
·         6 – 7 = adequada;
·         8 – 9 = disfunção leve;
·         10 – 15 = disfunção moderada;
·         16 – 21 = disfunção grave;
·         > 21 = disfunção muito grave.
O primeiro estudo brasileiro fazendo uso da escala (1) ocorreu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, envolvendo 50 crianças egressas da UTIP, e onde foi possível demostrar maior prevalência de disfunção moderada na funcionalidade global das mesmas. Também encontraram relação entre reiteração na UTI pediátrica e piores escores da FSS, associados também a maiores índices de mortalidade, maior permanência na UTI e em VMI.



Prof. Paulo Douglas Andrade
Mestre em Doenças Tropicais
Fisioterapeuta da UTI PED do Hospital de Clínicas de Belém e do CTI do Hospital Universitário da UFPA
Especialista Profissional em Terapia Intensiva Pediátrica, Neonatal e Adulto
Docente de cursos de Pós em Terapia Intensiva (INSPIRAR, CESUPA, UFPA, FINAMA)
Orientador da LAFIPEN



Wendy da Silva Modesto
Acadêmica de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Membro da Liga Acadêmica de Fisioterapia Pediátrica e Neonatal (LAFIPEN)













quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Gerenciando ARDS com ventilação não invasiva (NIV)

A síndrome do desconforto respiratório agudo (ARDS) descreve uma constelação de achados em pacientes com infiltrados pulmonares bilaterais devido a doença grave. É uma doença que, quando grave, está associada a uma mortalidade de quase 50%. 
ARDS é definida por cinco características: 
  • Início agudo
  • Doença pulmonar bilateral
  • Hipóxia (conforme medido por uma razão P / F)
  • Ausência de edema pulmonar
  • Necessidade de ventilação com pressão positiva
As cinco características da ARDS: Início agudo, doença pulmonar bilateral, hipóxia, ausência de edema pulmonar e necessidade de ventilação com pressão positiva.

Posso usar a VNI em pacientes com ARDS?

  • O uso de estratégias de ventilação para proteger o pulmão durante a ARDS tem sido pesquisado nos últimos 20 anos, e tentativas têm sido feitas para definir o papel da ventilação não invasiva (VNI) e da ventilação invasiva. O uso de VNI na ARDS poderia trazer teoricamente benefícios para os pacientes, porém as sociedades pregam cautela.. A falta de capacidade de controlar os volumes correntes e o possível prejuízo de causar um atraso na intubação podem levar a piores resultados para os pacientes. Na verdade, historicamente, as taxas de falha da VNI em pacientes com ARDS foram de cerca de 50%.

  • Alguns dados mais recentes indicaram que o sucesso na VNI dependeria da gravidade da doença e que é classificada pela relação PaO2/FiO2. Enquanto 40% ou mais dos pacientes com doença moderada a grave podem falhar na VNI, apenas 20% dos pacientes com doença leve falharão na VNI.

Indicadores de gravidade para ARDS leve moderada e grave e bullseyes para taxas de falha.  Ilustração.

Alguns fatores podem estar associados à falha da VNI no início da terapia
  • Pontuações mais altas de gravidade da doença logo no inicio da terapia; 
  • Demanda ventilatória mais altas;
  • Piora da relação PaO2/FiO2 rápidas;
  • Aumento da retenção de PacO2 indicando aumento do shunt pulmonar.

Pacientes com ARDS que falham na VNI têm uma taxa de mortalidade mais alta, portanto, essas variáveis ​​podem levar a uma seleção mais adequada do paciente e ao uso precoce da ventilação invasiva quando os pacientes não estão melhorando com a terapia.

A ARDS continua sendo uma doença complicada de controlar e sabemos por dados observacionais que a VNI é usada em aproximadamente 15% dos casos.


Até a próxima...



Assista uma aula sobre ARDS: https://www.youtube.com/watch?v=Hc8-tOlLrkQ







Fernando Acácio Batista

Professor de Educação Física
Graduando em Nutrição
Fisioterapeuta Intensivista 
Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Hospitalar da Physiocursos Sorocaba
Especializado em Fisiologia do Exercício pela UniAmérica
MBA em Gestão da Qualidade e Acreditação Hospitalar pela UniAmérica
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto pela ASSOBRAFIR - COFFITO
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

ECMO em H1N1



O uso da ECMO teve sua descrição em um estudo no New England em 2011 com relato de suas indicações, contra-indicações e complicações devido seu uso. A ECMO vem sendo estudada para pacientes com ARDS grave como uma medida de resgate que tem grandes promessas.

A ECMO é uma circulação extracorpórea que oxigena e remove Co2 do sangue, que é retirado por uma veia central passando pela membrana para realização da troca gasosa e retorna por uma veia central, técnica está chamada de veno-venosa. Existe também o sistema venoarterial em que o sangue neste caso retornará para o sistema arterial fornecendo suporte hemodinâmico também ao paciente. E seus ajustes são interessantes sendo o oxigênio ajustado através da FdO2 e o CO2 é eliminado com ajuste do fluxo de gás.

Seu desmame ocorre quando houver melhora da complacência pulmonar, oxigênação arterial e melhora na radiografia de toráx. Em pacientes com SARA a média de uso de ECMO gira em torno de 10 dias.
Alguns casos de H1N1 com uso de ECMo gerou interesses pelo estudo da técnica, porém sem números expressivos.

As indicações de ECMO em pacientes com SARA são:
- Hipoxemia grave : P/F < 80 apesar de PEEP elevada (15-20 cmH2O) por no mínimo 6 hora em pacientes com falência respiratória potencialmente reversível
- Hipercapnia descompensada com acidemia (pH < 7,15)
- Presença de pressões de platô excessivamente elevadas, > 35-45 cmH2O conforme o peso corporal
As contra-indicações relativas são :
- Altas pressões de ventilação (platô > 30 cmH2O) por mais de 7 dias
- Altos requerimentos de FiO2 (>0,8) por mais de 7 dias
- Acesso vascular limitado
- Disfunção orgânica que limite o benefício do ECMO, como injúria cerebral grave irreversível ou neoplasia metastática
- Qualquer condição que impossibilite a anticoagulação.

Em pacientes com H1N1 não temos visto grandes respostas a terapia com ventilação mecânica, visto que uma pequena parcela responde a manobras de recrutamento alveolar devido ao tipo de lesão pulmonar nesta doença que é totalmente diferente da SARA convencional. O que nos sobra então é pensar no uso da ECMO precoce que se demonstrou eficiente neste público de pacientes. Porém ainda com evidências limitadas pelo número pequeno de pacientes avaliados e também por não conseguir limitar qual a modalidade de ECMO que trás melhores resultados.
O que sabemos é que por estudos observacionais a ECMO precoce trás melhores resultados.
E como ventilar os pacientes em ECMO?
Utilizamos da estratégia protetora com uso de Peep para evitar propagar a lesão pulmonar nestes pacientes, portanto mantemos estratégia protetora em ECMO até o momento que o paciente apresente condições de sair da circulação extra corpórea.

O que esperar desta nova pandêmia?

http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMct1103720…






Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pela SOBRATI










quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Série Assincronia ventilatória - Assincronia de Fase 4


Finalmente chegamos na última fase do ciclo ventilatório e iremos falar da assincronia de fase 4 ou assincronia de fase expiratória.

Não devemos esquecer que a fase 4 é a fase expiratória e ela poderá ser visualizada de forma clássica na curva fluxo-tempo e até na fluxo-volume quando ocorrer auto peep.

Notamos na imagem ao lado que é representada por uma curva fluxo-tempo onde notamos que a curva não chega a sua linha zero no ramo expiratório, onde ocorre o inicio de outro ciclo ventilatório. Este fenômeno de auto peep dinâmica não deixa ocorrer o esvaziamento completo do ar inspirado no ciclo anterior, respeitando a constante de tempo expiratória do paciente. 



Nesta outra imagem representada pelo slope fluxo-volume, podemos notar que no seu ramo expiratório não atingiu o valor de zero e logo se iniciou outro ciclo ventilatório, assim ocasionando o aprisionamento de ar nos pulmões, por não respeitar as contatantes de tempo expiratória do paciente. Este fenômeno é muito comum quando na janela de tempo ajustada ao paciente não deixamos um tempo adequado de exalação, assim gerando a auto peep dinâmica.





Um dos maiores problemas desta PEEPi é que poderá levar a hiperinsuflação pulmonar, ocorrendo queda do débito cardíaco, piora hemodinâmica com hipotensão arterial, piora das trocas gasosas e aumento da concentração de Co2 sanguíneo. Outro problema é a geração de disparos ineficazes e queda da complacência gerando ciclagem tardia da VM.

Portanto é um tipo de assincronia que deverá ser monitorizada pelas curvas do ventilador mecânico e quando necessário realizar uma pausa expiratória para quantificar.


Assim terminamos nossa série de assincronia ventilatório e espero ter sido útil a vocês..




Até a próxima...



Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Membro da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI




quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Série Assincronia ventilatória - Assincronia de Fase 3


Hoje vamos discutir a assincronia de fase 3 ou a assincronia de ciclagem.

A ciclagem é a passagem da fase inspiratória para a fase expiratória, sendo difereniada em cada modalidade ventilatória, por isso precisamos ter um bom conhecimento dos princípios básicos= da ventilkação mecânica. 

A ciclagem poderá ser por tempo, volume, fluxo e pressão.

Ciclagem a tempo: Ela ocorre após determinarmos um TI pelo aparelho, como por exemplo na modalidade PCV onde ao determinarmos o TI de 1,00 segundo em um janela de tempo de 5 segundos. Ficaremos então com TE de 4 segundos.

Ciclagem a volume: Ocorre quando o volume pré-determinado pela operador for entregue ao paciente e é característico da modalidade VCV.

Ciclagem a fluxo: A ciclagem a fluxo ocorrerá quando atingirmos determinada porcentagem de fluxo inspiratório, assim ocorrendo a abertura da válvula expiratória do ventilador e é muito comum na modalidade PSV.

Ciclagem a pressão: Ela ocorre quando a pressão máxima programa no VM for entregue ao paciente. Este tipo de ciclagem é encontrado em VM´s antigos como o BIRD MARK 7, onde o TI dependera da Fr programa e da pressão inspiratória.

Outro ponto importante que precisamos saber é que quando o paciente está em VM precisamos sincronizar o TI do VM com o TI neural do paciente para evitarmos as assincronias de ciclagem.



Nesta imagem podemos notar que o paciente está ventilando em PSV e temos três porcentagens de ciclagem diferentes. Podemos notar que a ciclagem a 25% se encontra maior que o TI do paciente, com isso podemos vizualizar uma depressão na curva fluxo tempo, pois o paciente quer expirar e a máquina ainda está na fase inspiratória. Notamos que na pressão esofágica a contração inspiratória do diafragma termina e o VM ainda mantém a entrega de ar na fase inspiratória (TI máquina > TI neural). Ao colocarmos a cicalgem a 35% ainda notamos alterações na curva que só é corrigida com 45% de ciclagem. 




Nesta outra imagem notamos na primeira seta que o VM já ciclou, ou seja, já entrou na fase expiratória e o paciente ainda está tendo contração diafragmática. Neste caso o TI máquina é menor que o TI do paciente, então vizualizamos uma contração na fase expiratória da curva fluxo-tempo.




Nesta outra imagem notamos uma ciclagem precoce da VM, onde o TI do VM é curto em relação a o TI neural do paciente. Qando o VM está na fase expiratória e o paciente ainda está realizando contração diafragmática, notamos um outro disparo. Chamamos isto de duplo disparo que ocorre devido o TI da máquina estar menor que o do paciente. Para corrigir basta adequar o Ti do VM.

Temos também o disparo reverso que alguns chamam também de duplo disparo, porém o disparo reverso tem característica de o primeiro ciclo ser disparado a tempo e logo em seguida um disparo do paciente, que ocorre por uma estimulação vagal por estiramento pulmonar.



Assim terminamos a assincronia de fase 3


Até a próxima.




Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI

domingo, 23 de outubro de 2022

Série Assincronia ventilatória - Assincronia de Fase 2

Olá, meu nome é Fernando Acácio Batista e eu sou Fisioterapeuta especialista em fisioterapia em terapia intensiva adulto, além disso sou professor de ventilação mecânica tema que adoro e leciono em algumas especializações. Venho aqui deixar disponível para quem tenha interesse meu curso e e-book.

Cursos de atualizações em VM: https://fernandoabatista34.wixsite.com/website
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Hoje iremos falar sobre a assincronia de fase 2, ou assincronia do tempo inspiratório, ou seja, quando o paciente está recebendo o fluxo de ar pré-programado, independente de qual modalidade ventilatória você está ventilando.

A assincronia de fase 2 poderá ocorrer por fluxo ineficiente ou por fluxo em excesso para o paciente.
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Como podemos notar na imagem ao lado, um gráfico da modalidade VCV onde o paciente recebe um fluxo ineficiente para sua demanda e vemos uma concavidade na curva pressão-tempo que bate com a contração diafragmática monitorizada pela curva da pressão esofágica. Assim este paciente está recebendo um fluxo menor que o necessário e o chamamos de Undershoot ou fome de fluxo. Para corrigirmos está assincronia basta aumentarmos a oferta de fluxo. Como ele está na modalidade VCV só aumentarmos o fluxo inspiratório do paciente.



Este outro gráfico demonstra a mesma assincronia de fluxo, onde ofertamos 40 l/m, porém notamos a depressão na curva pressão-tempo onde demonstra uma necessidade maior de fluxo para a demanda do paciente. Poderemos resolver o problema aumentando a quantidade fluxo ofertada e assim atender a demanda necessária do paciente.







Quais os motivos que podem levar ao Undershoot:
- Sedação inadequada;
- Fluxo menor que a demanda;
- Rise-time muito lento em pacientes que necessitam de um pico de fluxo maior.
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Outra assincronia de fluxo que podemos encontrar é o Overshoot que é a oferta rápida de fluxo ao paciente. Neste casos encontramos uma espicula nas setas que demonstram uma má regulação no Rise Time que é o tempo de rampa ofertado. Neste caso o Rise Time está muito rápido, com isso geramos um fechamento da rápido da válvula com seguida abertura novamente, onde observamos essa queda na pressão e formação da espicula nas curvas. O overshoot é uma assincrônia que deverá ser corrigida para não iniciar uma cascata de outras assincronias quando o paciente apresenta drive ventilatório. Para corrigirmos está alteração basta regularmos o Rise Time para entregar um pico de fluxo menor até desaparecer a alteração nas curvas do ventilador mecânico.



http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11373508
http://itarget.com.br/newclients/sbpt.org.br/2011/downloads/arquivos/Dir_VM_2013/Diretrizes_VM2013_SBPT_AMIB.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25693449


Até a próxima...


Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto pela Assobrafir-Coffito
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI










quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A liderança na saúde, estamos fazendo certo?






Quando tentamos falar de liderança envolvemos váriaveis como a personalidade somado com o estilo de liderança. Outro ponto importante são que algumas pessoas estão despreparadas e carentes de conhecimento sobre estratégias de liderança e acabam tomando uma posição de chefe com perfil de imposição, além de problemas de relacionamento e assédio moral. 

Hoje iremos falar de um método de liderança chamado transformacional e que é um dos melhores modelos que poderemos utilizar na saúde. Ela é um tipo de liderança capaz de alterar qualquer comportamento e auxiliar na formação de pessoas e profissionais, com a utilização de exemplos e atitudes do dia a dia. A forma de tratamento com as pessoas, o estilo de resolução de problemas poderá ser inspirador e levar a admiração. Este tipo de liderança é muito positiva, pois as pessoas que as realizam apresentam uma grande capacidade de inovação, coloca seus colaboradores na participação dos processos, desenvolve o espirito de liderança em todos da equipe e assim fortalece um vínculo de confiança no trabalho.

Quando analisamos um líder transformacional poderemos encontrar nele o carisma, inspiração, visão, busca por desafios, resolução de problemas de forma efetiva e com mínimos conflitos. Portanto isso é extremamente importante para uma organização, visto a sobrecarga de trabalho que temos no dia a dia, visto a necessidade que as empresas estão tendo em relação à dedicação dos seus funcionários perante todo o cenário. Com tudo isso, poderemos atingir resultados satisfatórios, até com menores erros e insatisfações na equipe, visto que seu líder será visto como carismático e alguém que agrega valor para todos os envolvidos. 

Mas se isso é tão importante, qual o motivo de encontrarmos grandes organizações com chefias de perfil duro, inflexível e que acreditam que eles devem mandar e todos fazerem sem a necessidade de questionamentos?

A resposta ao mesmo tempo que é complexa, poderá ser fácil:
  • A primeira coisa a analisarmos é a cultura organizacional de sua empresa, pois ela poderá te revelar muito do modelo de gestão;
  • A gestão tem conhecimento, formação ou algum curso nessa área;
  • A gestão foi por meritocracia ou tinha contatos fortes na empresa;
  • A gestão tem competência técnico cientifica para se manter no cargo;
  • A empresa te tratá como um colaborador ou apenas como mais um.
Estes e outros pontos poderão responder a sua pergunta de forma mais clara e objetiva, pois devemos sempre lembrar que em um Mundo globalizado a competição existe e quem tem medo, poderá estar refletindo a sua baixa capacidade de argumentação. Portanto estamos longe de conseguir prosperar nesta área tão importante e que poderia trazer muito mais resultados e satisfações de nossos colaboradores para nossa organização, já que a área da saúde é tão pesada de trabalho e deixam todos exaustos.



Até a próxima...




Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Professor da Fisioterapia Campos - Campinas
Professor da especialização do Instituto de Fisioterapia - RJ
Professor do Mestrado em Terapia Intensiva do IBRATI
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI




quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Como medir o IRRS



A medida do IRRS para predizer o desmame é algo muito utilizado na prática clínica do Intensivista, mas será que a medida tem mesmo valor ao ser realizada da forma direta ou indireta?

No estudo Comparação do índice de respiração rápida e superficial (IRRS) calculado de forma direta e indireta no pós-operatório de cirurgia cardíaca dos autores Fernando A. M. Lessa, Cilso D. Paes, Rodrigo M. Tonella, Sebastião Araújo onde estudaram uma população com uma amostra de conveniência com 22 pacientes adultos com idade maior de 18 anos, no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca eletiva e que faziam uso de ventilação mecânica invasiva.

Estes pacientes estavam sendo ventilados com tubo orotraqueal de diâmetro entre 7,5 e 9,0 mm e em uso do ventilador mecânico Hamilton Medical Raphael (software versão 1), respirando espontâneamente com PS de 10 cmH20 e PEEP 5 cmH20 e FiO2 menor ou igual a 40%. Além de apresentarem um relação PaO2/FiO2 maior que 200, Glasgow 11T, além de estabilidade hemodinâmica e outros critérios.

Para realizar as medidas os pacientes eram mantidos em decúbito dorsal elevado a 45º de flexão de tronco, e após estabilização da pressão arterial e frequência cardiaca, foi ofertado por um minuto uma FiO2 100%. Após isso anotaram os valores de volume minuto, complacência, resistência pulmonar e FR espontânea dos pacientes aferidos pelo ventilador mecânico. Logo em seguida os pacientes foram desconectados do ventilador e o ventilômetro digital foi acolado registrando o volume minuto e a FR do paciente por 60 segundos, visando o calculo do IRRS (FR/VC).




"No comportamento da amostra, com relação à FR aferida pelos dois instrumentos, nota-se uma tendência de manutenção de valores correspondentes na maioria das medidas, confirmando a correlação estabelecida pelo teste, com CCI igual a 0,8. Com relação ao VC, o valor de CCI, igual a 0,79, expressa que os valores foram correspondentes, sendo que, em oito indivíduos, o VC apresentou valores próximos quando aferidos pelos dois modos de medida. Em cinco indivíduos, a medida do ventilômetro foi superior à registrada pelo ventilador e, em sete indivíduos, a medida aferida pelo ventilador foi superior àquela do ventilômetro. Na análise dos valores de VM, em que o CCI foi de 0,74, nota-se que, em cinco indivíduos, o VM apresentou valores próximos nas duas medidas. No entanto, em 13 indivíduos, a medida aferida pelo ventilômetro foi maior, sendo que, em apenas dois indivíduos, o VM foi maior na medida com o ventilador".

Conclusão dos autores: "Em suma, no presente estudo, observou-se que houve uma concordância estatisticamente significativa entre o IRRS calculado a partir dos valores obtidos pela ventilometria direta e o obtido por meio dos valores disponíveis no display do ventilador mecânico Raphael®. Tendo em vista a importância e o amplo emprego, na prática diária, desse índice como preditor de sucesso para o desmame da ventilação mecânica, é válido todo esforço para tornar o procedimento mais rápido, simples e facilmente reprodutível, eliminando custos adicionais para aquisição de novos equipamentos, além de tornar mais rápida a tomada de decisão quanto à extubação, o que pode diminuir os riscos inerentes ao uso da ventilação mecânica prolongada. São necessários mais estudos, com uma casuística maior, para que se consiga estabelecer um fator de correção preciso para os valores de IRRS obtidos com diferentes métodos e que evite a superestimativa do índice pela pressão de suporte ventilatório. Houve dificuldades em saber quais seriam os pacientes que efetivamente fariam cirurgia cardíaca eletiva, visto que se ficou atrelado à equipe médica responsável que, muitas vezes, necessitava atender casos de urgências inesperadas e provocava o adiamento das cirurgias eletivas. Houve dificuldade também na disponibilidade exclusiva do ventilador Raphael para a pesquisa, visto que havia mais dois tipos de ventiladores mecânicos que poderiam ser colocados em uso para esses pacientes dentro da rotina do serviço".


Observações: O estudo chegou a esse resultado, mas devemos pensar em alguns pontos:
  • Os pacientes apresentavam perfil pós-operatório e o tempo de ventilação mecânica era muito pequeno;
  • Estes pacientes geralmente são extubados assim que acordam e apresentem drive ventilatório, sem a necessidade de realizar testes preditores;
  • Todos os pacientes apresentavam um IRRS favorável para desmame pelo perfil dos mesmos;
  • Será que em pacientes clínicos de diversas doenças esses resultados seriam o mesmo;
  • Será que em pacientes com tempos maiores de uso de ventilação mecânica esses resultados seriam correlacionados ou discrepantes.

Até a próxima...


Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapia Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Professor da Universidade Anhanguera - Belém
Membro da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI


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