segunda-feira, 25 de março de 2019

VALE À PENA POSICIONAR BEBÊS GRAVES NA REDE?

VALE À PENA POSICIONAR BEBÊS GRAVES NA REDE?

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A utilização de redes no ambiente da UTI tanto pediátrica quanto neonatal não se trata de uma conduta rotineira, pelo menos não na grande maioria das unidades. Mas será que esse procedimento traria alguma vantagem aos bebês em condição crítica? Ou seriam os riscos maiores que os possíveis benefícios? Vejamos o que as evidências trazem a respeito...

Um estudo transversal publicado em 2018 avaliou 8 prematuros internados em uma UTI neonatal, todos ventilados mecanicamente ou em uso de oxigenoterapia, sendo posicionados na rede por 2 horas. Tal procedimento influenciou positivamente nas variáveis cardiorrespiratórias (diminuição da FC, FR e intensidade da dor, além de aumento na SpO2).

                                Fig. 1

Outra pesquisa publicada na Pediatric Physical Therapy avaliou vinte prematuros com muito baixo peso (MBP) para comparar a influência da posição supina em rede versus a posição prona no ninho na maturidade neuromuscular, crescimento e estabilidade autonômica. Cada grupo teve 10 bebês que foram mantidos no referido posicionamento durante 3 horas/dia por 10 dias consecutivos. O posicionamento supino em rede foi associado a um maior escore de maturidade neuromuscular (p <0,003) e uma condição mais relaxada, expressa por menor frequência cardíaca e respiratória (p <0,05 e p <0,01, respectivamente), provando que a rede pode afetar positivamente na estabilidade autonômica e na maturidade neuromuscular.
Em se tratando de pediatria, um ensaio clínico randomizado publicado na Acta Pediatrica em 2014 preocupou-se em avaliar a segurança de lactentes posicionados na rede após o relato de duas crianças encontradas mortas nos EUA ao serem adormecidas na rede infantil. Foi levantada a hipótese de prejuízo na oxigenação por uma flexão cervical do bebê posicionado em rede, dada a anatomia particular das vias aéreas do lactente jovem. 24 lactentes foram recrutados, sendo 14 randomizados para dormir em redes e 10 em berços. Não houve diferenças na apneia obstrutiva ou oxigenação entre os grupos, sugerindo que a rede não comprometeu a perviedade via aérea superior.

                             Fig. 2

Por fim, um estudo nacional recente (Leonel et al, 2018) realizado em UTI neonatal encontrou que os bebês prematuros posicionados em rede tiveram como principais benefícios: melhor ganho de peso, melhor desenvolvimento sensorial e motor, além de maior redução dos níveis de stress.
A ideia de posicionar os bebês em redes se deu pela necessidade de se buscar um ambiente semelhante ao útero materno. Os RN prematuros internados em UTI são geralmente mais irritados e chorosos, pois saíram do ambiente aconchegante intraútero e encontram-se agora em ambiente hostil, longe do colo materno.

                            Fig. 3

Na UTI neonatal podem-se ter redes confeccionadas para este fim, assim como é possível improvisá-las utilizando os lençóis, ataduras e esparadrapo da própria unidade. O improviso permite que a rede seja ajustada mais aberta, fixando pelas laterais da incubadora (Fig. 1) ou mais fechada, passando a fixação pelo centro da incubadora (Fig. 2). Na UTI pediátrica a rede pode ser fixada na grade do leito (Fig. 3) ou mesmo em suportes de soro ou qualquer outra superfície rígida, como suporte do monitor ou válvula redutora da rede de gases (Fig. 4).
A intenção do uso da rede é a realização de uma terapia mais humanizada, pois ao permanecerem no ambiente de UTI os RN recebem vários estímulos que interferem em seu desenvolvimento de forma prejudicial, como ruídos, luzes, estresse, dor, troca de fralda, punção e demais procedimentos invasivos, fazendo com que haja desorganização postural e comportamental, agitação, gasto energético, perda de peso, entre outros.

                            Fig. 4

A rede de descanso terapêutica tem a finalidade de recriar o ambiente uterino, permitindo o aquecimento do RN, menor gasto energético (com consequente aumento do peso), melhor qualidade do sono e adoção de uma postura que auxilia no desenvolvimento neuropsicomotor e no desmame ventilatório. Neste sentido, faz-se necessária uma revisão de conceitos para que as unidades neonatais e pediátricas estimulem mais a adoção deste posicionamento, cuja segurança já foi comprovada e que, além dos benefícios para o RN ou lactente, minimiza a má impressão que a UTI causa aos pais e visitantes.

                                                    Prof. MSc. Paulo Andrade
Mestre em Doenças Tropicais
Fisioterapeuta intensivista do Hospital Universitário HUJBB
Fisioterapeuta da UTI PED do Hospital de Clínicas FHCGV
Título de Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal
Docente de 05 cursos de Pós-Graduação em Terapia Intensiva
Orientador da LAFIPEN


Danielle Nascimento
Acadêmica de Fisioterapia da UNAMA
Coordenadora de Comunicação da LAFIPEN

REFERÊNCIAS

http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/5988

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