quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Quão funcional suas crianças deixam a UTI?... uma conversa sobre PICS e FSS

Olá, meu nome é Fernando Acácio Batista e eu sou Fisioterapeuta especialista em fisioterapia em terapia intensiva adulto, além disso sou professor de ventilação mecânica tema que adoro e leciono em algumas especializações. Venho aqui deixar disponível para quem tenha interesse meu curso e e-book.

Cursos de atualizações em VM: https://fernandoabatista34.wixsite.com/website
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Quão funcional suas crianças deixam a UTI?... uma conversa sobre PICS e FSS

Quem atua em unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP) não raro presencia crianças que recebem alta da unidade com significativa perda funcional em relação ao status pré internação na UTIP. Os avanços tecnológicos sem dúvidas reduziram sobremaneira a taxa de mortalidade de crianças graves, mas será que temos nos preocupado do fato em como estamos devolvendo essas crianças para a sociedade? Será que os profissionais que atuam em terapia intensiva pediátrica têm noção do impacto social, psicológico e financeiro que esse déficit funcional gera na família como um todo?
O termo “Síndrome Pós-UTI” ou “Síndrome Pós-Cuidados Intensivos” (PICS) tem sido utilizado para descrever um conjunto de sintomas presenciados em crianças que passaram por estado crítico, mesmo meses após a alta hospitalar. Tais sinais e sintomas vão desde prejuízos físicos, como complicações neuromusculares periféricas, disfunção diafragmática e piora da função pulmonar até distúrbios cerebrais e psicológicos, tais como Delirium, depressão, ansiedade, entre outros (1). São achados que persistem a longo prazo, causando alterações clínicas, funcionais e psicológicas, e que em se tratando do público pediátrico pode, inclusive, estender-se aos pais (2).
                                                  Fig. 1: criança realizando treino com cicloergômetro na UTIP.

Novamente a MOBILIZAÇÃO PRECOCE (Fig. 1) surge como alternativa para se minimizar tal processo patológico e seus respectivos impactos. Todavia, faz-se necessário uma quebra de paradigmas (Fig.2) no sentido de se pôr em prática o que se discute há muito tempo apenas no âmbito teórico. É preciso, de uma vez por todas, entender que a fisioterapia em terapia intensiva pediátrica não se limita à terapia respiratória. Uma das barreiras a este tipo de intervenção e que está intimamente relacionado à PICS é o uso prolongando de algumas drogas (1) como benzodiazepínicos, bloqueadores neuromusculares e corticoides (ilustrado ironicamente na figura 3).          
                                 Fig. 2: metáfora sobre iniciativa para quebra de paradigmas.

Uma revisão sistemática publicada ano passado (2017) no World Journal of Critical Care Medicine (3) afirmou que a PICS é gerada por morbidades muito bem descritas em crianças que sobrevivem a estados críticos e levantou os principais fatores de risco: menor idade, menor status socioeconômico, maior número de intervenções e utilização de sedativos e narcóticos.
                                               Fig. 3: meme ironizando barreira à mobilização.

Neste sentido, faz-se necessária uma preocupação com o nível funcional da criança ao receber alta da UTIP, devendo o mesmo ser considerado como o principal indicador da equipe de fisioterapia que atua neste setor. Este ano (2018) tivemos o privilégio de ter a Escala de Status Funcional pediátrica (FSS) traduzida e adaptada para a cultura do Brasil (4). Ela foi desenvolvida e fundamentada nos conceitos de Atividade de Vida Diária (AVD) e de comportamento adaptativo. É uma escala de avaliação do escore funcional nos domínios motor e cognitivo, especificamente desenvolvida para pacientes pediátricos hospitalizados. Caracteriza-se por ser um método quantitativo, rápido e confiável, aplicável a qualquer faixa etária.
A escala é composta por seis domínios: estado mental, sensorial, comunicação, função motora, alimentação e respiração. Cada domínio recebe uma pontuação de 1 (normal) a 5 (disfunção muito severa), portanto seu escore total varia de 6 a 30, sendo categorizada da seguinte forma:
·         6 – 7 = adequada;
·         8 – 9 = disfunção leve;
·         10 – 15 = disfunção moderada;
·         16 – 21 = disfunção grave;
·         > 21 = disfunção muito grave.
O primeiro estudo brasileiro fazendo uso da escala (1) ocorreu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, envolvendo 50 crianças egressas da UTIP, e onde foi possível demostrar maior prevalência de disfunção moderada na funcionalidade global das mesmas. Também encontraram relação entre reiteração na UTI pediátrica e piores escores da FSS, associados também a maiores índices de mortalidade, maior permanência na UTI e em VMI.



Prof. Paulo Douglas Andrade
Mestre em Doenças Tropicais
Fisioterapeuta da UTI PED do Hospital de Clínicas de Belém e do CTI do Hospital Universitário da UFPA
Especialista Profissional em Terapia Intensiva Pediátrica, Neonatal e Adulto
Docente de cursos de Pós em Terapia Intensiva (INSPIRAR, CESUPA, UFPA, FINAMA)
Orientador da LAFIPEN



Wendy da Silva Modesto
Acadêmica de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Membro da Liga Acadêmica de Fisioterapia Pediátrica e Neonatal (LAFIPEN)













quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Gerenciando ARDS com ventilação não invasiva (NIV)

A síndrome do desconforto respiratório agudo (ARDS) descreve uma constelação de achados em pacientes com infiltrados pulmonares bilaterais devido a doença grave. É uma doença que, quando grave, está associada a uma mortalidade de quase 50%. 
ARDS é definida por cinco características: 
  • Início agudo
  • Doença pulmonar bilateral
  • Hipóxia (conforme medido por uma razão P / F)
  • Ausência de edema pulmonar
  • Necessidade de ventilação com pressão positiva
As cinco características da ARDS: Início agudo, doença pulmonar bilateral, hipóxia, ausência de edema pulmonar e necessidade de ventilação com pressão positiva.

Posso usar a VNI em pacientes com ARDS?

  • O uso de estratégias de ventilação para proteger o pulmão durante a ARDS tem sido pesquisado nos últimos 20 anos, e tentativas têm sido feitas para definir o papel da ventilação não invasiva (VNI) e da ventilação invasiva. O uso de VNI na ARDS poderia trazer teoricamente benefícios para os pacientes, porém as sociedades pregam cautela.. A falta de capacidade de controlar os volumes correntes e o possível prejuízo de causar um atraso na intubação podem levar a piores resultados para os pacientes. Na verdade, historicamente, as taxas de falha da VNI em pacientes com ARDS foram de cerca de 50%.

  • Alguns dados mais recentes indicaram que o sucesso na VNI dependeria da gravidade da doença e que é classificada pela relação PaO2/FiO2. Enquanto 40% ou mais dos pacientes com doença moderada a grave podem falhar na VNI, apenas 20% dos pacientes com doença leve falharão na VNI.

Indicadores de gravidade para ARDS leve moderada e grave e bullseyes para taxas de falha.  Ilustração.

Alguns fatores podem estar associados à falha da VNI no início da terapia
  • Pontuações mais altas de gravidade da doença logo no inicio da terapia; 
  • Demanda ventilatória mais altas;
  • Piora da relação PaO2/FiO2 rápidas;
  • Aumento da retenção de PacO2 indicando aumento do shunt pulmonar.

Pacientes com ARDS que falham na VNI têm uma taxa de mortalidade mais alta, portanto, essas variáveis ​​podem levar a uma seleção mais adequada do paciente e ao uso precoce da ventilação invasiva quando os pacientes não estão melhorando com a terapia.

A ARDS continua sendo uma doença complicada de controlar e sabemos por dados observacionais que a VNI é usada em aproximadamente 15% dos casos.


Até a próxima...



Assista uma aula sobre ARDS: https://www.youtube.com/watch?v=Hc8-tOlLrkQ







Fernando Acácio Batista

Professor de Educação Física
Graduando em Nutrição
Fisioterapeuta Intensivista 
Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Hospitalar da Physiocursos Sorocaba
Especializado em Fisiologia do Exercício pela UniAmérica
MBA em Gestão da Qualidade e Acreditação Hospitalar pela UniAmérica
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto pela ASSOBRAFIR - COFFITO
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI

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