quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Como medir o IRRS



A medida do IRRS para predizer o desmame é algo muito utilizado na prática clínica do Intensivista, mas será que a medida tem mesmo valor ao ser realizada da forma direta ou indireta?

No estudo Comparação do índice de respiração rápida e superficial (IRRS) calculado de forma direta e indireta no pós-operatório de cirurgia cardíaca dos autores Fernando A. M. Lessa, Cilso D. Paes, Rodrigo M. Tonella, Sebastião Araújo onde estudaram uma população com uma amostra de conveniência com 22 pacientes adultos com idade maior de 18 anos, no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca eletiva e que faziam uso de ventilação mecânica invasiva.

Estes pacientes estavam sendo ventilados com tubo orotraqueal de diâmetro entre 7,5 e 9,0 mm e em uso do ventilador mecânico Hamilton Medical Raphael (software versão 1), respirando espontâneamente com PS de 10 cmH20 e PEEP 5 cmH20 e FiO2 menor ou igual a 40%. Além de apresentarem um relação PaO2/FiO2 maior que 200, Glasgow 11T, além de estabilidade hemodinâmica e outros critérios.

Para realizar as medidas os pacientes eram mantidos em decúbito dorsal elevado a 45º de flexão de tronco, e após estabilização da pressão arterial e frequência cardiaca, foi ofertado por um minuto uma FiO2 100%. Após isso anotaram os valores de volume minuto, complacência, resistência pulmonar e FR espontânea dos pacientes aferidos pelo ventilador mecânico. Logo em seguida os pacientes foram desconectados do ventilador e o ventilômetro digital foi acolado registrando o volume minuto e a FR do paciente por 60 segundos, visando o calculo do IRRS (FR/VC).




"No comportamento da amostra, com relação à FR aferida pelos dois instrumentos, nota-se uma tendência de manutenção de valores correspondentes na maioria das medidas, confirmando a correlação estabelecida pelo teste, com CCI igual a 0,8. Com relação ao VC, o valor de CCI, igual a 0,79, expressa que os valores foram correspondentes, sendo que, em oito indivíduos, o VC apresentou valores próximos quando aferidos pelos dois modos de medida. Em cinco indivíduos, a medida do ventilômetro foi superior à registrada pelo ventilador e, em sete indivíduos, a medida aferida pelo ventilador foi superior àquela do ventilômetro. Na análise dos valores de VM, em que o CCI foi de 0,74, nota-se que, em cinco indivíduos, o VM apresentou valores próximos nas duas medidas. No entanto, em 13 indivíduos, a medida aferida pelo ventilômetro foi maior, sendo que, em apenas dois indivíduos, o VM foi maior na medida com o ventilador".

Conclusão dos autores: "Em suma, no presente estudo, observou-se que houve uma concordância estatisticamente significativa entre o IRRS calculado a partir dos valores obtidos pela ventilometria direta e o obtido por meio dos valores disponíveis no display do ventilador mecânico Raphael®. Tendo em vista a importância e o amplo emprego, na prática diária, desse índice como preditor de sucesso para o desmame da ventilação mecânica, é válido todo esforço para tornar o procedimento mais rápido, simples e facilmente reprodutível, eliminando custos adicionais para aquisição de novos equipamentos, além de tornar mais rápida a tomada de decisão quanto à extubação, o que pode diminuir os riscos inerentes ao uso da ventilação mecânica prolongada. São necessários mais estudos, com uma casuística maior, para que se consiga estabelecer um fator de correção preciso para os valores de IRRS obtidos com diferentes métodos e que evite a superestimativa do índice pela pressão de suporte ventilatório. Houve dificuldades em saber quais seriam os pacientes que efetivamente fariam cirurgia cardíaca eletiva, visto que se ficou atrelado à equipe médica responsável que, muitas vezes, necessitava atender casos de urgências inesperadas e provocava o adiamento das cirurgias eletivas. Houve dificuldade também na disponibilidade exclusiva do ventilador Raphael para a pesquisa, visto que havia mais dois tipos de ventiladores mecânicos que poderiam ser colocados em uso para esses pacientes dentro da rotina do serviço".


Observações: O estudo chegou a esse resultado, mas devemos pensar em alguns pontos:
  • Os pacientes apresentavam perfil pós-operatório e o tempo de ventilação mecânica era muito pequeno;
  • Estes pacientes geralmente são extubados assim que acordam e apresentem drive ventilatório, sem a necessidade de realizar testes preditores;
  • Todos os pacientes apresentavam um IRRS favorável para desmame pelo perfil dos mesmos;
  • Será que em pacientes clínicos de diversas doenças esses resultados seriam o mesmo;
  • Será que em pacientes com tempos maiores de uso de ventilação mecânica esses resultados seriam correlacionados ou discrepantes.

Até a próxima...


Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapia Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Professor da Universidade Anhanguera - Belém
Membro da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI


sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Ventilação Mecânica no choque séptico.



Estudo Brasileiro.

- Pacientes com choque séptico sem síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) devem ser submetidos à ventilação com baixo volume corrente, embora a redução forçada dos volumes correntes às vezes não seja alcançável e nem desejada em pacientes com acidose ou maior drive respiratório.

- Os melhores padrões para ventilação mecânica de choque séptico com SDRA incluem ventilação de baixo volume corrente limitando a pressão de platô (com bloqueio neuromuscular de curto prazo conforme necessário para atingir os alvos desejados), pressões expiratórias finais positivas altas tituladas (para paO2/FiO2 < 200 mmHg), posicionamento prono (para paO2/FiO2<150 mmHg após um período de estabilização de 12 h) e ECMO para casos refratários em centros experientes.

- Os efeitos colaterais das estratégias de ventilação devem ser considerados em todos os pacientes com choque séptico, especialmente os efeitos da ventilação com baixo volume corrente no pH sanguíneo e os efeitos da PEEP elevada e das manobras de recrutamento no retorno venoso e direito disfunção ventricular.

- A Driving Pressure é algo promissor na ventilação mecânica sob intenso escrutínio, mas as comparações
diretas com os padrões atuais de atendimento ainda são justificadas antes de sua disseminação generalizada recomendação como o principal alvo da ventilação protetora pulmonar.

- A respiração espontânea é cada vez mais reconhecida como um potencial mediador de lesão pulmonar, mas o perfil de risco-benefício das estratégias para atenuar a respiração espontânea ainda é incerto e o conceito de ventilação protetora de pulmão e diafragma está surgindo na literatura para abordar essa importante questão de pesquisa.





Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI

Fisioterapia no pós-operatório de correção de aneurisma de aorta


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Hoje iremos falar rapidamente sobre a abordagem da Fisioterapia em pacientes idosos que fazem correção de aneurisma abdominal e é um público com grandes chances de complicações e mortalidade a depender das comorbidades e do tipo de abordagem necessária. Portanto temos basicamente a correção do aneurisma por via endovascular e por via abdominal, onde o paciente necessitará de uma laparoscopia, o que poderá demandar maiores complicações pós-operatórias. 

E uma destas complicações são as pulmonares pelas quais ocorrem pela dor e hipoventilação, deixando nosso paciente vulnerável a ter atelectasias, hipoxemia, insuficiência respiratória e complicações como pneumonia. Assim logo que esse paciente chega do centro cirúrgico ele irá experimentar um período de dor na região do abdome, além de uma respiração mais superficial com relato de que ao tentar realizar uma inspiração profunda ele sente muita dor e não consegue. Outro fator importante que estará afetada é a tosse, pois sua capacidade inspiratória está alterada pela dor e manipulação local.

Este paciente se manterá restrito no leito por pelo menos 6 horas ou mais a depender da equipe cirúrgica, assim a equipe de Fisioterapia é acionada para trabalhar com este paciente e a primeira terapia em mente é os incentivadores respiratórios como o Respiron (dispositivo a fluxo), pois é barato e de fácil acesso. Sua indicação se dá pelo fato do paciente necessitar realizar inspirações profundas e como é um aparelho ele serve de incentivo para o mesmo. Porém muitos profissionais relatam que ao usar tal dispositivo observam aumento da expansão do toráx e melhora da Spo2, mas ao buscarmos na literatura seus benefícios veremos que temos meta análises demonstrando que o mesmo não apresenta eficácia em desfechos importantes como complicações pulmonares, assim deixando em dúvida sua real necessidade. Mesmo que os estudos sejam de baixa qualidade, ainda não podemos afirmar que tal artefato tenha algum beneficio para estes pacientes, sendo necessário análise criteriosa para sua indicação.

Outra conduta que podemos utilizar nestes pacientes que ficam acamados é a introdução da pressão positiva, onde está parece ter mostrado resultados interessantes para grupos de pacientes que se submetem a abordagem torácicas e abdominais, sendo assim um grande aliado para nossa terapia no dia a dia.

Outra abordagem interessante é que deve ser instalada precocemente é a retirada do leitos destes pacientes, permanecendo o mais tempo possível na poltrona e atingindo metas de deambulação. Estas metas ainda não nos trazem números como base, porém sabemos que a deambulação tem grandes benefícios nos pacientes com aumento do volume minutos e recrutamento de unidades alveolares que podem esta fechadas, além que parece aumentar um pouco o limiar de dor destes pacientes.

Devemos lembrar que estes pacientes poderão ser abordados por via endovascular onde sua liberação será muito mais rápida para a saída do leito, já os pacientes com abordagens por via laparoscópicas tem sua liberação de saída do leito por volta do 1º ou 2º P.O a depender de cada caso.

Segue um exemplo de metas diárias que poderemos estabelecer para estes pacientes:

1º P.O meta de deambulação minima de 50 metros/dia.
2º P.O meta de deambulação minima de 100 metros/dia
3º P.O meta de deambulação minima de 250 metros/dia


Associado a deambulação o paciente poderá realizar ainda exercícios resistidos, cicloergômetria de MMSS e MMII e se mantém em poltrona, ou seja fora do leito a maior parte do dia.Tudo isso para diminuirmos o risco de complicações pulmonares e otimização de alta para estes pacientes.

Lembrando que o grupo de pacientes que realizam este tipo de cirúrgica geralmente fazem parte da 3º idade e carregam como histórico doenças pregressas e catabolismo acelerado. Portanto é de extrema importância a abordagem multi profissional...


Até a próxima...





Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especializando em MBA em Gestão em Serviços de Saúde pela UNINOVE
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A resolução de N° 501 - Fisioterapeuta nos serviços de emergência e urgência



Resultado de imagem para fisioterapia em emergência


Fala galera, hoje nossa postagem é especial e estaremos transcorrendo uma conversa que tive com o Fisioterapeuta Dr. Mariel Patrício, sim ele que é um dos profissionais que colaborou com  a resolução de N° 501 , que reconhece a atuação do Fisioterapeuta nos serviços de emergência e urgência aprovada pelo COFFITO e publicada no DOU. Quer saber mais sobre? Não deixe de ler nossa postagem.

1 - Blog: Caro Mariel poderia nos falar um pouco da sua atuação?

       R: Caro amigo Professor Fernando Batista, venho atuando dentro da Terapia Intensiva há pelo menos dez anos, minha história com as salas de emergência começou lá por 2013 onde eu e o colega Fisioterapeuta Dr. Gabriel Maia ( um dos autores da resolução 501) passamos a integrar a equipe de atuação em emergências no centro de trauma no Hospital Estadual Alberto Torres em São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro e à partir dali começamos a enxergar esta necessidade por parte da profissão de forma mais importante criando ações em formato de educação continuada e pesquisa com olhar no futuro.

2 - Blog: Entrando agora no assunto sobre a resolução resolução de N° 501 , que reconhece a atuação do Fisioterapeuta nos serviços de emergência e urgência aprovada pelo COFFITO. O que de fato isso representa para a Fisioterapia?

R: Esta resolução já vem sendo construída desde 2014 com a criação do Departamento de Fisioterapia em Urgência e Emergência da AFERJ convite este realizado pelo colega Dr. Leandro Azeredo ( então presidente da Associação dos Fisioterapeutas do Estado do Rio de Janeiro e um dos autores da resolução), logo os avanços começaram a se tornar mais palpáveis, capítulos em livros e periódicos,com a intenção sempre da busca pelo reconhecimento da nossa atuação junto ao nosso Conselho Federal. Esse reconhecimento é de extrema importância para plantarmos a semente do Fisioterapeuta atuando dentro destas unidades.

3 - Blog: Aproveitando esse assunto vou colocar uma polêmica. Isso nos traz possibilidade de aplicar no SAMU? Te pergunto isso, pois tenho visto muitas postagens sobre isso após a resolução?

R: A resolução trata estritamente da atuação do Fisioterapeuta dentro das urgências e emergências hospitalares, e para as unidades de pronto atendimento (UPAS) de forma legal; alguns municípios no Brasil já possuem este serviço,  e em um breve futuro, este também será um grande passo. Realmente existem algumas postagens englobando o SAMU, neste sentido a nossa resolução não fala , pois em primeiro momento devemos nos atentar ao que pode ser viável em nível de atuação intra hospitalar.

4 - Blog: Na resolução fala sobre o ACLS. O que podemos esperar sobre isso?

R: A idéia do ACLS é interessante por vários motivos, como por exemplo o Fisioterapeuta já é parte integrante dos times de resposta rápida, a última atualização do guideline da American Heart Association (2015) nos respalda e nos recomenda quanto a esta inclusão , e dentro dos Hospitais também participamos de paradas cardíacas. Além do mais o ACLS é um conhecimento a mais para os profissionais e isso não significa que o Fisioterapeuta vai conduzir uma parada e prescrever medicação.

5 - Blog: Então significa que a idéia de fazer o ACLS é obter um conhecimento mais específico e ajudar em situações mais delicadas?

R: Exatamente, o Fisioterapeuta não vai tocar uma parada e muito menos prescrever medicação, mas ser mais um profissional com capacidade de contribuir dentro da intercorrência. Hoje a American Heart Association não contempla o Fisioterapeuta em seus cursos, mas nada impede de conseguirmos esta inclusão, visto a necessidade real que temos em nossa demanda.

6 - Blog: Aqui em São Paulo já temos alguns grandes hospitais que contemplam o Fisioterapeuta dentro do setor de emergência e urgência. Isso é a visão dos grandes hospitais frente a redução de custos e qualidade do atendimento.

R: Exatamente, os hospitais começaram a enxergar a necessidade de manter um profissional dentro do setor, pois estaremos ali 24 horas e tendo atuação na ventilação mecânica, patência das vias aéreas, ventilação mecânica não invasiva, entre outras atuações que poderemos contribuir para uma assistência de qualidade, segurança e contribuindo para redução de custos hospitalares.

7 - Blog: Se me permite amigo, eu sou um dos grandes defensores dos indicadores de performance dentro da Fisioterapia, pois só assim poderemos mostrar nossa eficiência. E no setor de emergência e urgência não é diferente. Para se ter uma idéia na rede hospitalar que trabalho, nós temos equipe 24 horas cobrindo o pronto socorro e coordenador de Fisioterapia dentro dele. Então, estamos colhendo ótimos frutos desta implantação...

R:ÓTIMA NOTÍCIA! A nossa ideia é expandir esse conhecimento para os quatro cantos do nosso país, e demonstrar a importância da nossa atuação dentro da unidade de emergência. Inclusive fico feliz de saber sobre esta inclusão em São Paulo, pois já é um caminho muito bom que foi percorrido.

8 - Blog: Acredito que essa nossa conversa é extremamente importante e esclarecedora para nossos colegas de trabalho. O Fisioterapeuta tem algum canal onde poderia entrar em contato com vocês em casos de dúvidas?

R:  Sim, é importante deixar claro para os profissionais o que a resolução de N° 501 trás, pois é mais um reconhecimento que abre portas para contratação de novos profissionais em um setor onde ainda não estamos totalmente inseridos. A importância social disso é enorme e estamos muito felizes com a conquista. Nós temos um canal onde as pessoas poderão entrar em contato e estaremos esclarecendo as dúvidas. Para maiores esclarecimentos favor enviar suas dúvidas para o site do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional  no "Fale Conosco" ou encaminhar para o email : fisiourgenciaemergenciaaferj@gmail.com

9 - Blog: Eu quero deixar aqui meu agradecimento ao Fisioterapeuta Mariel Patrício pela postagem e esclarecimentos e até a próxima...



Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especializando em MBA em Gestão em Serviços de Saúde pela UNINOVE
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI

Indicadores - Sentinela





Nesta postagem vamos falar do indicador sentinela que é descrito pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), que nada mais é uma ocorrência não esperada ou alguma alteração nos processos que poderão levar a óbito. Todas estas falhas de processos devem ser classificadas pela sua gravidade e ser passível de orientação e notificação.

Então quais são eles:

  • Grau 1: Se ocorrer este tipo de evento sentinela em um paciente ou profissional da saúde e o mesmo evoluiu para óbito, será necessário uma intervenção imediata e ainda se o Hospital for creditado, uma notificação deverá ser feita para a Instituição Acreditadora.
  • Grau 2: Se ocorrer este evento que atinge o profissional ou o paciente causando dano permanente, também é necessário intervenção imediata.
  • Grau 3: Ocorrência de característica de lesão temporária no profissional ou paciente;
  • Grau 4: Ocorrência que não atingiu o profissional ou paciente.
Sempre que ocorrer algum destes eventos , devemos educar e orientar os profissionais para que não ocorre recidiva, pois estes eventos  poderão levar a um tempo maior de internação, aumento dos gastos hospitalares, aumento de riscos de infecções e em casos graves o óbito. Lembrando que estes eventos podem ocorrer também com o profissional de saúde que lida diretamente com o paciente.

Os eventos sentinelas mostram falhas nos processos, sistemas ou nas equipes de saúde, e os mesmos são indesejáveis no atendimento hospitalar, podendo até gerar grandes repercussões. Este tipo de evento ainda poderá virar um processo judicial, investigação e intervenção de órgãos normatizadores dos serviços de saúde.

Segue alguns eventos sentinelas:
  • Diagnóstico errado;
  • Falta de atendimento adequado com a gravidade do paciente;
  • Uso errado de medicações;
  • Não administração de medicamentos prescritos;
  • Medicações trocadas;
  • Realização de cirurgias em locais errados;
  • Esquecimento de aparelhagem cirúrgica no paciente;
  • Dano por uso inadequado de equipamento;
  • Queda do paciente do leito;
  • Algum episódio de piora clínica relacionada ao atendimento inadequado.
  • Entre outros.

Ok, então a Fisioterapia não tem eventos sentinela? 

A resposta é não, e eles são tao comuns que nem percebemos. Vamos a eles:
  • Utilização de volumes correntes além do necessário: Este é um dos eventos sentinelas mais comuns que podemos encontrar nos Hospitais, pois sabemos que alguns pacientes podem desenvolver lesão pulmonar induzida pela VM, assim aumentando seu risco de mortalidade, tempo de internação e maior tempo de ventilação mecânica.
  • Ajuste incorretos dos alarmes da VM: Ao deixarmos os alarmes ajustados de forma inadequada e inapropriada, poderemos estar contribuindo para eventos graves em nossos pacientes.
  • Falta de controle adequado de umidificação de vias aéreas: Em nosso dia a dia usamos a umidificação passiva ou ativa em nossos pacientes e a manutenção inadequada deste dispositivo pode levar a lesões em vias aéreas e formação de rolhas, acarretando em intercorrências importantes.
  • Fixação da COT e TQT: Sabemos que o responsável nem sempre é o Fisioterapeuta por este controle, mas é inadmissível que isso ocorra por falta de fixação adequada e este evento pode acarretar em óbito.
Podemo colocar mais eventos como:
  • Queda do leito durante terapia;
  • Queda durante deambulação assistida;
  • Aspirações de horário que podem levar a descompensações (sendo que não é indicação aspirações de horário);
  • Entre outros.
E quais são os fatores que levam aos eventos sentinelas?
  • Fatores Humanos;
  • Comunicação;
  • Liderança;
  • Avaliação inicial;
  • Gestão da informação;
  • Ambiente físico;
  • Planejamento dos cuidados;
  • Continuidade dos cuidados;
  • Uso de medicação;
  • Prestação dos cuidados.

Com isso fica claro que a Fisioterapia  poderá gerar diversos eventos sentinelas dentro da unidade e devemos monitorizar, realizar o treinamento adequado e diminuir os riscos obtidos dentro de nossa unidade. Para isso é necessário gerar indicadores de controle com o objetivo de identificar, traçar uma conduta, treinar e resolver o problema.

Espero ter ajudado em mais está postagem e aguarde que teremos mais.




Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto pelo Coffito - Assobrafir
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI



















quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Indicador Porta-Fisioterapia


Nesta postagem iremos entrar no assunto dos indicadores na Fisioterapia, visto que é sobre isso que falamos em nossas postagens e acredito que o pessoal esteja curioso sobre o assunto. Então vamos iniciar com o tema porta -Fisioterapia.

Podemos definir o Porta-Fisioterapia como o tempo em que o Fisioterapeuta demora para a primeira abordagem do paciente após sua internação, onde podemos classificar como a primeira avaliação da equipe da Fisioterapia. 

Qual a importância disso?
A importância é que expressa a eficiência da sua equipe frente a admissão do paciente, pois o mesmo poderá dar entrada em franca IRpA, necessitando de intubação, parada cardio-respiratória, ou abordagens que necessite de terapia de higiêne brônquica, reexpansão pulmonar, entre outras abordagens da Fisioterapia. Assim a admissão mais rápida torna sua equipe mais eficiente e resolutiva perante o processo atual. Este indicador é de extrema importância no serviço, seja no Pronto Socorro, UTI ou Enfermaria.

Mas muitos irão relatar: No meu serviço é rotina admitir todos os pacientes que dão entrada no setor.

Ótimo, isso é importante, mas tabular isso é mais ainda, pois só assim podemos demonstrar o quão eficiente e ligados nos processos nossa equipe se encontra.

Como calcular?
O calculo é extremamente fácil, sendo realizado por uma média de tempo em que a equipe demorou para o primeiro atendimento. Devemos obter uma planilha de controle deste tempo Porta-Fisioterapia, fazemos a soma dele no mês e dividimos pelo número de atendimento.

Exemplo:

  • Tivemos na UTI 60 atendimentos em janeiro;
  • Somamos todos os Portas Fisioterapia;
  • No total deu um tempo de 1350 minutos;
  • Dividimos pelo número de atendimentos;
  • O resultado será um tempo médio de 22,5 minutos para a admissão.
Dentro desse resultado sabemos que uma admissão mais prolongada pode alterar toda a média, e se você quiser poderá calcular a mediana e a moda também para maiores informações. Mas o que podemos tirar daqui é: 
  • Será que meu Porta-Fisioterapia está eficiente para meu setor?
Se sim ótimo, mas caso não você poderá traçar estratégias para melhorar está abordagem e descobrir também o motivo da demora. 
  • Temos Fisioterapeutas suficientes para o setor?
  • O Fisioterapeuta consegue atender sua demanda de forma adequada e admitir rapidamente?
  • Qual o intuito da instituição?
  • Eu preciso ter um porta Fisioterapia rápido?
  • Qual o perfil da minha unidade?


Espero ter ajudado com mais está postagem e até a próxima...





Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especializando em MBA em Gestão em Serviços de Saúde pela UNINOVE
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI




segunda-feira, 1 de agosto de 2022

VNI em pacientes com AIDS E IRpA tipo I


A epidemia da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) representa fenômeno global, dinâmico e instável. Dentre as complicações mais comuns em pacientes imunossuprimidos, as infecções respiratórias são atualmente, o principal fator de risco para o desenvolvimento de pneumonia por Pneumocystis Jiroveci (PCP) ou pneumocistose. Dentre as principais alterações fisiopatológicas nesses pacientes encontramos: hipoxemia com aumento do gradiente alvéolo-arterial de oxigênio e alcalose respiratória, redução da capacidade de difusão sugerindo bloqueio alvéolo-capilar, alteração na complacência pulmonar, na capacidade vital, bem como na capacidade pulmonar total, sendo muitas vezes necessário o uso de ventilação mecânica (VM) invasiva para correção da fisiopatologia, melhora da dispneia e redução do trabalho respiratório nos casos com grave deterioração das trocas gasosas. Cerca de 40% dos pacientes com SIDA tem o pulmão como local principal para doenças letais e hipoxemia é comum naqueles doentes. 

Evitar intubação orotraqueal em pacientes imunossuprimidos deve ser um importante objetivo no tratamento da insuficiência respiratória e a utilização da VNI pode ser benéfica no alcance desse objetivo. Richard et al, em seu estudo, utilizaram CPAP por máscara facial em portadores de SIDA com diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis Jirovesi apresentando hipoxemia (N=18). Foi realizado o tratamento com duração média de quatro dias. A mortalidade hospitalar foi de 55% juntamente com algumas complicações, tais como: pneumotórax e intubação orotraqueal. Ainda assim os autores concluíram que o CPAP é uma alternativa que necessita ser mais bem estudada para esse perfil de pacientes¹³. Já Miller et al, em seu estudo, aplicaram CPAP também por máscara facial em oito pacientes, com obtenção de sucesso, sendo que em sete dos pacientes, houve diminuição da frequência respiratória e melhora da oxigenação arterial diminuindo o número de intubação.

Já Confalonieri et al, em estudo prospectivo do tipo caso controle, compararam 24 pacientes tratados com VNI com outros 24 tratados com VMI e demonstraram com seus resultados que o uso da VNI evitou em 67% a necessidade de intubação. Já Hilbert et al utilizou a comparação entre o uso precoce e intermitente de VNI com o tratamento convencional, incluindo suplementação de oxigênio, em 52 pacientes imunossuprimidos, sendo dois com SIDA e a maioria transplantados medulares, com insuficiência respiratória aguda, infiltrados pulmonares e febre. No grupo submetido à VNI houve menor necessidade de intubação (12% vs.20%).

O III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica traz como grau de recomendação B, o uso de VNI em grupos diferentes de imunossuprimidos, sendo um deles composto por pacientes com SIDA e insuficiência respiratória tipo I.  Hill, MD et al, apresentou em seu estudo publicado no ano de 2007, como sendo grau de evidência A o uso de VNI em pacientes imunocomprometidos. Anjos et al, realizaram, no ano 2012, um estudo prospectivo, composto por 30 pacientes portadores de SIDA com insuficiência respiratória grave que foram tratados com VNI no modo BINIVEL divididos em seis grupos. Os pacientes imediatamente após coleta de dados recebiam suporte respiratório não invasivo, iniciando com uma PEEP de 0 cmH2O e pressão de suporte (PSV) de 5 cm H2O e FIO2 de 1 durante 20 min. Durante esse tempo eram aleatoriamente direcionados a um dos seis e então, cada um recebeu uma sequência diferente de (5, 10, e 15; ou 5, 15 e 10; ou 10, 15, e 5; ou 10, 5, e 15; ou 15, 10, e 5; ou 15, 5, e 10 cm de H2O). Cada valor de PEEP foi aplicado durante 20 min. Nos intervalos de cada aplicação de PEEP foi realizada uma lavagem de 20 min, com máscara de Venturi com FIO2 de 0,5. A cada intervalo eram coletados novos dados. Os resultados deste estudo demonstraram que o uso não invasivo de PEEP foi associado à melhoras na oxigenação do sangue, sensação subjetiva de dispneia e frequência cardíaca, sendo que o uso de PSV com uma PEEP de 0 cmH2O acentuou relatos de sensação subjetiva de dispneia. 

O uso da VNI neste grupo de pacientes ainda é algo obscuro, visto que o acometimento pulmonar poderá ser muito grave a hipoxêmia refratária ao tratamento, porém quando bem selecionado e com uma amplo experiência a equipe consegue evitar a intubação e diminuir a mortalidade neste grupo.


Conteúdos:
  • Brito AM, Castilho EA, Szwarcwald. AIDS  e infecção pelo HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada. Rev  Soc Bras Med Trop.2001;34(2): 2007-2017.
  • Barreto S. Pneumonia por “Pneumocystis carinii”: tratar ou investigar? Jornal de Pneumologia, 1997, 23 (2): 57 [editorial]. 
  • Marchiori E, Pereira CIGS, Moreira LBM, Capone D, de Moraes HP.Pneumocistose na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: Correlação da Tomografia Computadorizada de Alta Resolução com a Anatomopatologia. Radiol Bras 2001;34(6):317–321. 
  • Anjos CFD ; Schettino  GPP, Park  M, Souza  VS, Scalabrini Neto  A. A Randomized Trial of Noninvasive Positive End Expiratory Pressure in Patients With Acquired Immune Deficiency Syndrome and Hypoxemic Respiratory Failure. Respir Care 2012;57(2): 211–220. 
  • Carneiro EM, Maneira RZ, Rocha E. Ventilação Mecânica Não-Invasiva em Paciente com Provável Pneumonia por Pneumocystis Jirovecii. Relato de Caso. Rev Bras de Ter Intens,2008:20(2):210-212. 
  • Gachot B, Clair B, Wolff M, Régnier B, Vachon F. Continuous positive airway by face mask or mechanical ventilation in patients with human immunodeficiency vírus infection and severe Pneumocystis carinii pneumonia.Intensive Care 1992,18(3): 155-159. 
  • Antonelli M, Pennisi MA, Conti G. New advances in the use of noninvasive ventilation for acute hypoxaemic respiratory failure. Eur Respir J 2003; 22: Suppl. 42, 65s–71s.
  • Confalonieri M, Calderini E, Terrraciano S, Chidini G, Celeste E, Puccio G, et al. Noninvasive ventilation for treating acute respiratory failure in AIDS patients with Pneumocystis carinii pneumonia. Intens Care Med, 2002; 28(9): 1233-8. 
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  • SCHETTINO G. IIIº Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Bras Pneumol, 2007, 33(Supl. 2): S92-S105. 
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Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista Gestor do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI




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