quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Delirium em UTI Pediátrica... vale à pena monitorar de forma rotineira?

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VAMOS AO TEXTO


O Delirium, diferente de delírio, consiste em uma disfunção orgânica aguda do cérebro, de caráter geralmente flutuante, caracterizada por um distúrbio em uma ou mais destas 3 áreas: consciência, atenção e cognição. Tal flutuação da condição mental provoca uma alteração no comportamento de caráter hipoativo ou hiperativo ou misto.
É muito comum em pacientes internados em unidades de terapia intensiva, sendo que na população adulta já foi encontrada uma incidência de até 80%, a depender do perfil da UTI. Ao contrário dos adultos/idosos, na população pediátrica quanto menor a faixa etária maior o risco de desenvolver o distúrbio. No estudo publicado este ano com 99 crianças em unidade pediátrica cardiológica foi encontrada incidência de 57%(1). O que chamou mais atenção na referida publicação foi que o grupo que cursou com Delirium teve um tempo de internação na UTI 3 vezes maior que o grupo que não desenvolveu Delirium. Sem contar que o tempo de ventilação mecânica nas crianças com Delirium aumentou 308% em relação àquelas que não apresentaram o distúrbio.
Em pediatria temos 5 escalas disponíveis para o diagnóstico do Delirium:

 PAED (Pediatric Anesthesia Emergency Delirium Scale)
 CAPD (Cornell Assessment of Pediatric Delirium)
 SOS-PD (Sophia Observation withdrawal Symptoms-Paediatric Delirium scale)
 pCAM-ICU (Pediatric Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit)
 psCAM-ICU (PreSchool Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit)

Destas 5, apenas 2 possuem tradução e adaptação transcultural para o Brasil(2,3), fato este ocorrido este ano, na mesma edição da mesma revista, por grupos de pesquisadores diferentes: CAPD e pCAM-ICU.

Vamos a alguns detalhes de cada uma:

A PAED foi desenvolvida para avaliar crianças de 1 a 17 anos em despertar de indução anestésica, porém tem um grande ponto negativo: detecta apenas a forma hiperativa.

A CAPD, ou simplesmente Cornell, é uma adaptação da PAED, porém com a vantagem de identificar todas as formas de Delirium. São 8 perguntas, onde em cada uma temos uma pontuação de 0 a 4. O diagnóstico é fechado caso a pontuação total seja ≥ 9. Tem a vantagem de ser simples e de fácil aplicação, além de ser traduzida e adaptada, mas com a desvantagem de ter algumas perguntas subjetivas, o que pode comprometer a confiabilidade interavaliadores.

A SOS-PD, ou simplesmente Sophia, foi validada semana passada(4) (nov/2018) no Critical Care (Fig. 1) pela enfermeira holandesa Erwin Ista, da UTI PED do Sophia Children´s Hospital, que desenvolveu essa escala e publicou sua descrição completa ano passado (2017) no Australian Critical Care(5). Foram incluídas na análise 485 crianças de 3 meses a 18 anos, com idade média de 2 anos. Foi feita correlação com a Cornell e encontrada boa confiabilidade e validade para detecção do Delirium. O interessante dessa escala é que além de levar em consideração a síndrome da abstinência ela possui 17 itens que dizem respeito aos sintomas de Delirium e 01 item que aborda a percepção dos pais, ou seja, se os mesmos notaram alteração no comportamento do filho. Isso é de extrema importância, pois numa unidade onde se interna uma criança em pós-operatório ou já intubada, dificilmente é possível saber como era a personalidade da mesma previamente à internação, o que só poderá ser confirmado pelos pais. Na ausência deste dado, uma criança muito introspectiva pode ser levada à investigação de Delirium hipoativo.

                                               Fig. 1 - título do artigo publicado na Critical Care (nov/2018)

A pCAM-ICU é uma adaptação da CAM-ICU, utilizada em adultos. Tem a vantagem de ser a mais específica de todas as escalas (99% de especificidade) justo pelo fato de ser bem detalhada, porém tem a grande desvantagem de ser aplicável apenas a partir dos 5 anos de idade. São avaliados 4 critérios: início agudo, desatenção, nível de consciência e pensamento desorganizado. A criança precisa apresentar os 2 primeiros acompanhados de 1 dos 2 últimos.

Por fim, a psCAM-ICU, ou simplesmente Pre-School, é uma adaptação da pCAM-ICU, com a grande vantagem de poder ser utilizada em crianças menores de 5 anos, mantendo a elevada especificidade, porém com a desvantagem de ainda não ter sua tradução e adaptação para o português do Brasil. 

A temática Delirium é bem atual, relevante e pertinente sobretudo pelo fato de constituir fator de risco para mortalidade. Neste sentido, conclui-se que nossas crianças admitidas na UTI, em especial aquelas com tendência a estresse pós-traumático (pós-operatório, por exemplo) necessitam ser monitoradas para este mal assim que completarem 24hs de internação na unidade. Tal investigação deve ser feita de 12/12 ou de 8/8hs e não precisa ser um profissional psicólogo ou psiquiatra, podendo ser qualquer profissional da equipe, como enfermeiros, terapeutas ocupacionais ou mesmo os médicos. A chave mestra da prevenção e tratamento encontra-se na mobilização precoce, conduta esta exclusiva da fisioterapia, mas que poderia ser muito bem associada com a abordagem da Terapia Ocupacional, cuja presença nas UTI´s pediátricas já deveria ser garantida por lei há muito tempo, dada a relevância deste profissional no setor. Resta-nos encorajar nossos colegas a conquistar também seu espaço para assim formarmos um time de reabilitação mais efetivo em prol de nossos pequeninos.

                                                                                           
                                                                                           
Prof. Paulo Douglas

Mestre em Doenças Tropicais
Especialista Profissional em Terapia Intensiva Pediátrica, Neonatal e Adulto
Fisioterapeuta da UTI Pediátrica do Hospital de Clínicas
Fisioterapeuta do CTI do Hospital Universitário Barros Barreto
Professor da Pós Graduação em Terapia Intensiva (INSPIRAR, CESUPA, UFPA e FINAMA)
Orientador da LAFIPEN


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