quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Como medir o IRRS



A medida do IRRS para predizer o desmame é algo muito utilizado na prática clínica do Intensivista, mas será que a medida tem mesmo valor ao ser realizada da forma direta ou indireta?

No estudo Comparação do índice de respiração rápida e superficial (IRRS) calculado de forma direta e indireta no pós-operatório de cirurgia cardíaca dos autores Fernando A. M. Lessa, Cilso D. Paes, Rodrigo M. Tonella, Sebastião Araújo onde estudaram uma população com uma amostra de conveniência com 22 pacientes adultos com idade maior de 18 anos, no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca eletiva e que faziam uso de ventilação mecânica invasiva.

Estes pacientes estavam sendo ventilados com tubo orotraqueal de diâmetro entre 7,5 e 9,0 mm e em uso do ventilador mecânico Hamilton Medical Raphael (software versão 1), respirando espontâneamente com PS de 10 cmH20 e PEEP 5 cmH20 e FiO2 menor ou igual a 40%. Além de apresentarem um relação PaO2/FiO2 maior que 200, Glasgow 11T, além de estabilidade hemodinâmica e outros critérios.

Para realizar as medidas os pacientes eram mantidos em decúbito dorsal elevado a 45º de flexão de tronco, e após estabilização da pressão arterial e frequência cardiaca, foi ofertado por um minuto uma FiO2 100%. Após isso anotaram os valores de volume minuto, complacência, resistência pulmonar e FR espontânea dos pacientes aferidos pelo ventilador mecânico. Logo em seguida os pacientes foram desconectados do ventilador e o ventilômetro digital foi acolado registrando o volume minuto e a FR do paciente por 60 segundos, visando o calculo do IRRS (FR/VC).




"No comportamento da amostra, com relação à FR aferida pelos dois instrumentos, nota-se uma tendência de manutenção de valores correspondentes na maioria das medidas, confirmando a correlação estabelecida pelo teste, com CCI igual a 0,8. Com relação ao VC, o valor de CCI, igual a 0,79, expressa que os valores foram correspondentes, sendo que, em oito indivíduos, o VC apresentou valores próximos quando aferidos pelos dois modos de medida. Em cinco indivíduos, a medida do ventilômetro foi superior à registrada pelo ventilador e, em sete indivíduos, a medida aferida pelo ventilador foi superior àquela do ventilômetro. Na análise dos valores de VM, em que o CCI foi de 0,74, nota-se que, em cinco indivíduos, o VM apresentou valores próximos nas duas medidas. No entanto, em 13 indivíduos, a medida aferida pelo ventilômetro foi maior, sendo que, em apenas dois indivíduos, o VM foi maior na medida com o ventilador".

Conclusão dos autores: "Em suma, no presente estudo, observou-se que houve uma concordância estatisticamente significativa entre o IRRS calculado a partir dos valores obtidos pela ventilometria direta e o obtido por meio dos valores disponíveis no display do ventilador mecânico Raphael®. Tendo em vista a importância e o amplo emprego, na prática diária, desse índice como preditor de sucesso para o desmame da ventilação mecânica, é válido todo esforço para tornar o procedimento mais rápido, simples e facilmente reprodutível, eliminando custos adicionais para aquisição de novos equipamentos, além de tornar mais rápida a tomada de decisão quanto à extubação, o que pode diminuir os riscos inerentes ao uso da ventilação mecânica prolongada. São necessários mais estudos, com uma casuística maior, para que se consiga estabelecer um fator de correção preciso para os valores de IRRS obtidos com diferentes métodos e que evite a superestimativa do índice pela pressão de suporte ventilatório. Houve dificuldades em saber quais seriam os pacientes que efetivamente fariam cirurgia cardíaca eletiva, visto que se ficou atrelado à equipe médica responsável que, muitas vezes, necessitava atender casos de urgências inesperadas e provocava o adiamento das cirurgias eletivas. Houve dificuldade também na disponibilidade exclusiva do ventilador Raphael para a pesquisa, visto que havia mais dois tipos de ventiladores mecânicos que poderiam ser colocados em uso para esses pacientes dentro da rotina do serviço".


Observações: O estudo chegou a esse resultado, mas devemos pensar em alguns pontos:
  • Os pacientes apresentavam perfil pós-operatório e o tempo de ventilação mecânica era muito pequeno;
  • Estes pacientes geralmente são extubados assim que acordam e apresentem drive ventilatório, sem a necessidade de realizar testes preditores;
  • Todos os pacientes apresentavam um IRRS favorável para desmame pelo perfil dos mesmos;
  • Será que em pacientes clínicos de diversas doenças esses resultados seriam o mesmo;
  • Será que em pacientes com tempos maiores de uso de ventilação mecânica esses resultados seriam correlacionados ou discrepantes.

Até a próxima...


Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapia Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Professor da Universidade Anhanguera - Belém
Membro da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI


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