quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Efeitos da mobilização passiva nas respostas hemodinâmicas agudas em pacientes sob ventilação mecânica



No dia a dia sempre nos deparamos com aqueles pacientes sedados, e que por isso não apresentam tônus muscular presente e estão imóveis no leito, com isso pensamos sempre em realizar a mobilização passiva nos mesmos. E junto a este contexto, vem a indagação que ao mobilizar passivamente, eu estarei levando a algumas alterações hemodinâmicas?

Neste poste vamos falar do estudo Brasileiro "Efeitos da mobilização passiva nas respostas hemodinâmicas agudas em pacientes sob ventilação mecânica", que tem seus autores de Londrina. 


Foram incluídos no estudo:

  • Pacientes com idade acima de 18 anos;
  • Em uso de ventilação mecânica por mais de 48 horas;
  • Na modalidade pressão controlada;
  • Peep entre 5 a 8 cmH2O;
  • Vt entre 6 - 8 ml/kg;
  • Fio2 entre 21 - 50;
  • Com infusão de drogas sedativas e analgésicas para um Ramsay 4 a 6;
  • Sem uso de aminas;
  • E estáveis hemodinâmicamente.


O protocolo de mobilização passiva consistia em:

  • Manter os pacientes com elevação da cabeceira a 30 graus;
  • A mobilização era feita em movimentos de flexo-extensão do quadril e joelho (90º de flexão) durante cinco minutos. 
  • Após 10 minutos de repouso, foram realizadas mais cinco minutos de  flexo-extensão de ombro (90º de flexão). 
  • A Mobilização foi realizada por dois fisioterapeutas simultaneamente, sendo que enquanto um profissional realizava a flexão outro promovia a extensão do membro oposto, com uma freqüência de 30 movimentos por minuto.
  • As mensurações hemodinâmicas (frequência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) e pressão arterial média (PAM) foram realizadas um minuto antes da realização do protocolo e no primeiro minuto após o término de cada etapa. Para verificar os sinais clínicos, os pacientes foram monitorizados continuamente com traçado do ECG, FC, PAS, PAD e PAM .
  •  A variável duplo produto (DP) foi obtida por meio do produto da PAS pela FC (DP=PAS x FC), enquanto que a aquisição da variável para medida do consumo ou captação de oxigênio pelo miocárdio (mVO2 ) foi obtida também de forma indireta pela fórmula mVO2 =(DP x 0,0014) – 6,3.(15) 

Resultados: 

Segue a escrita no estudo " Analisando a FC (MMII, p=0,015; MMSS, p=0,034), DP (MMII, p=0,012; MMSS, p=0,025) e mVO2 (MMII, p=0,011; MMSS, p=0,024), observou-se diferença estatisticamente significante. Imediatamente após MP a PAM apresentou discreto aumento, sem significância estatística".



Comentário: Podemos notar que os autores obtiveram algumas diferenças em determinados dados, e isso pode ter ocorrido por alguns fatores:
  • A mobilização mesmo passiva de membros poderá levar ao uma aumento do retorno venoso, assim alterando a pré e pós carga cardíaca, com isso podemos notar um aumento da FC;
  • Outro possível fator no momento da mobilização pode ser explicado por um alongamento tendíneo, que poderá gerar um aumento da FC do paciente, pois esse alongamento irá gerar alterações no sistema autônomo do coração. Essa alteração mecano-reflexa gera descargas eferentes do sistema nervosos central e periférico, assim ao alongar um músculo, ocorrerá um ajuste da função cardíaca pela atividade simpática reflexa, com diminuição da modulação vagal. Resultado disto é que o sistema parassimpático tem seu estilo diminuído e o sistema simpático aumentado, assim a FC aumenta. (Lembrando que o sistema parassimpático determina o ritmo cardíaco e o sistema simpático quando estimulado tende a aumentar a FC).

Podemos ter em mente que mesmo durante à mobilização passiva de membros por tempo curto, poderemos encontrar alterações hemodinâmicas agudas nos nossos pacientes. Portanto devemos deixar algumas perguntas sobre estes resultados:

  • E se estes pacientes estivessem utilizando drogas vasoativas?
  • Será que a mobilização passiva trás algum desfecho favorável em pacientes sedados?
  • Ela deve ser implantada de rotina?
  • Estas alterações hemodinâmicas poderiam proporcionar o que de positivo para o paciente?
O que acham?

Até a próxima...





Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Fisioterapia Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Professor da Universidade Anhanguera
Professor convidado da Especialização em Cardiorrespiratória da Unicid
Membro da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI






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