segunda-feira, 22 de julho de 2024

Mobilização de pacientes com ECMO




Quando pensamos em mobilizar nossos pacientes, diversas barreiras podem aparecer no meio do caminho para dificultar nossa terapia, porém em sua maioria não se tratam de barreiras realmente perigosas e sim de uma situação de receio ou medo por falta de experiência muitas vezes. 

E se falarmos que existe a possibilidade de deambular com pacientes em uso de ECMO?

Muitos poderão torcer os olhos e eu confesso que eu também farei o mesmo, pois fico imaginando como a equipe conseguirá retirar um paciente do leito com um aparato daqueles, além de que a  responsabilidade que teremos nesta conduta será enorme.

Sabemos que a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) vem sendo  utilizada em pacientes com insuficiência respiratória como pacientes com ARDS, pacientes que irão receber transplante pulmonar e até pós transplante como ponte de recuperação, entre outros. E isso faz com que estes pacientes que recebem ECMO venovenosa ou venoarterial sejam desconsiderados para o atendimento da Fisioterapia em relação a exercícios ativos, pois muitos estão sedados e com uso de agentes bloqueadores neuromusculares, além de termos um aparato enorme pela frente. Mas será que todos os pacientes que irão receber ECMO devem ficar totalmente em repouso?

Ainda nos falta informações condizentes sobre os desfechos em pacientes que realizam Fisioterapia e deambulam em uso de tal dispositivo, mas se pensarmos que todos os pacientes que recebem ECMO e que ficarão em repouso, poderão evoluir para fraqueza muscular induzida pela UTI, repensamos o que poderíamos fazer para manter a manutenção da força muscular e funcionalidade?

Claro que para conseguirmos tal feito teremos que mobilizar precocemente estes pacientes, mas será que isso pode ser algo seguro?

Neste post vamos falar de um estudo de coorte retrospectivo com 100 pacientes que receberam ECMO na terapia intensiva, onde foram evidenciados que 35% destes recebiam terapia ativa, e dentre eles eram pacientes que utilizaram a ECMO como ponte para transplante ou como ponto de recuperação. 

O interessante que todos os pacientes que recebiam ECMO eram avaliados de segunda a sábado para adequação de sua participação da Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e estas avaliações eram realizadas por Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais, Enfermeiros, Terapeutas Respiratórios e Médicos Intensivistas, assim garantindo adequada segurança para inclusão na terapia.

Os pacientes que apresentavam hemorragia significativa, arritmia instável, trombocitopenia grave, instabilidade hemodinâmica que necessitavam de vasopressores em altas doses, hipoxemia grave apesar da suplementação de oxigênio, sedação e uso de bloqueio neuromuscular eram excluídos para a Fisioterapia no momento.

Assim a equipe de mobilização era constituída por um Fisioterapeuta, um Perfusionista, um Enfermeiro e um Terapeuta Respiratório, ou algum outro profissional a depender da necessidade do paciente. Porém tinham que ter pelo menos três profissionais no minimo para iniciar a Terapia, pois os aparatos eram um circuito de ECMO simplificado que inclui apenas os componentes do núcleo (bomba centrífuga, oxigenador de membrana, console e tubulação), todas as outras terapias intravenosas, incluindo a hemodiálise, eram administradas através de pontos de acesso separados e as terapias não essenciais eram interrompidas temporariamente durante as sessões de Fisioterapia.


Um dispositivo de estabilização, consistindo de material de fissuração termoplástico, pode ser usado para fixar a cânula ECMO e tubulação durante a mobilização. O circuito da ECMO, constituído por uma bomba centrífuga, um oxigenador de polimetilpenteno e um console, eram mantidos em um carrinho que poderia ser mobilizado ao lado do paciente. Durante as sessões de fisioterapia, a ECMO era ajustada conforme o necessário, com base no julgamento clínico e o estado hemodinâmico e respiratório eram monitorados ao longo de toda a terapia, incluindo o uso de oximetria de pulso contínua. 

 A duração da ECMO foi de 14,3 ± 10,9 dias e os pacientes receberam 7,2 ± 6,5 sessões Fisioterapia, além de que nas sessões 18 pacientes (51%) deambularam (mediana de distância de 35 metros), sendo que destes, 9  estavam em uso de vasopressores. 

Assim os autores concluíram que a Fisioterapia e a deambulação poderão ser realizadas de forma segura em pacientes que recebem ECMO, porém ainda não temos resultados sobre os desfechos que está mobilização pode trazer a estes pacientes. Vale ressaltar que é necessário uma equipe experiente para realizar tal conduta, com adequada fixação dos cateteres, transporte do equipamento e retirada do paciente do leito.

Segue um link de um paciente andando na ECMO:
https://www.youtube.com/watch?v=FD7r3Di-5gU


https://ccforum.biomedcentral.com/articles/10.1186/cc13746


Até a próxima...



Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Professor da Universidade Anhanguera
Fisioterapeuta Emergêncista (ERWS)
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestrando em Terapia Intensiva pelo IBRATI



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