quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Mobilização em pacientes pós AVCi- Estudo Brasileiro





O estudo Early Mobilization in Ischemic Stroke: A Pilot Randomized Trial of Safety and Feasibility in a Public Hospital in Brazil teve como objetivo avaliar a segurança, eficácia e os benefícios da mobilização precoce em pacientes que apresentaram acidente vascular encefálico isquêmico e foi realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)

Este foi um estudo controlado randomizado e duplo cego que comparou a mobilização dentro das 48 horas do diagnóstico contra a rotina de Fisioterapia, cujo desfechos importantes avaliados foram a mortalidade, morbidade e estado funcional.

Foram incluídos pacientes com diagnósticos confirmados de AVCi com tomografia ou ressonância magnética, eles deveriam estar estáveis hemodinamicamente e apresentando Glasgow > 8,  escala de Rankin modificada (MRS) ≤ 3, e déficit motor e / ou ataxia  medido pela National Institutes of Health Stroke Scale. Como critério de exclusão entram o acidente vascular cerebral hemorrágico ou ataque isquêmico transitório, história de doença progressiva neurológica, doença coronariana aguda, doença cardíaca descompensada, ou insuficiência respiratória.

A randomização era realizada por um programa on-line com um investigador do estudo e foram randomizados em grupo intervenção (GI) onde receberam a mobilização precoce iniciada dentro de 48 horas após o inicio dos sintomas de AVC e consistiu em sentar fora do leito em uma poltrona ou em pé quando possível, além de realizar treino funcional e reaprendizado motor de acordo com o Conceito Bobath. Os exercícios eram com pelo menos 5 repetições e com ênfase nos deficit motores apresentados. Além de orientação e o uso de um manual descrevendo posicionamento na cama e mudança de posturas e posicionamento para ser realizado em casa após a alta. o GI foi mobilizado 5 vezes por semana, uma vez por dia durante 30 minutos e ficaram fora do leito também por 30 minutos sempre que possível. Estes atendimento eram realizados até a alta ou até o 14º dia de tratamento.

Já o grupo controle (GC) receberam o cuidado padrão, com a Fisioterapia convencional do Hospital quando solicitado pela equipe, e a terapia variava de acordo com a necessidade do paciente e da disponibilidade do Fisioterapeuta. Geralmente eram realizadas a terapia respiratória e motora com o paciente na cama e as sessões duravam em torno de 15 minutos.

Os desfechos primários do estudo foram:

  • Tempo para a primeira mobilização;
  • Duração total da Fisioterapia motora;
  • Complicações durante o inicio na mobilização nas primeiras 48 horas;
  • Complicações dentro dos 3 primeiros meses;
  • Complicações relacionadas à imobilidade até 3 meses;
  • Morte dentro dos 3 meses.
Os desfechos secundários medidos em 3 meses:
  • MRS;
  • NIHSS;
  • MBI

Os pacientes do GI receberam mobilização mais cedo do que o GC, sendo o tempo médio para a primeira mobilização de 43 horas comparado a 72 horas no GC. Apenas 5 pacientes do GC receberam Fisioterapia motora durante a internação.

Foi verificado no estudo que a mobilização precoce após o AVCi não provoca hipotensão sintomática, também não houve risco de quedas e nenhum paciente apresentou deterioração do déficit neurológico durante o tratamento.

Também não verificamos a associação entre a mobilização e menores níveis de complicações secundárias à imobilidade; O estudo relata resultados semelhantes aos estudos AVERT e AKEMIS. E a mortalidade foi semelhante nos dois grupos, assim indicando que a mobilização precoce dentro das primeiras 48 horas é segura.








Segue um quadro com resultados dos desfechos de complicações na internação como pneumonia, TVP, TEP e relacionado a pontuação nos escores avaliados durante o estudo

Nos desfechos secundários não foram notadas diferenças entre os grupos em relação a independência funcional (MRS) ou pontuação no NIHSS entre o 14 até 3 meses. 






Os autores concluíram que a mobilização precoce em paciente após AVCi é seguro e eficaz, mesmo com as limitações que o estudo apresentou por apresentar uma amostra pequena reduzindo o poder estatístico para demonstrar o efeito da intervenção, limitações em relação a monitorização na emergência de pacientes que demoraram para ser transferidos para os setores específicos, a menor quantidade de Fisioterapia motora no grupo GI em relação a outros estudos.

Sempre que eu vejo um estudo Brasileiro publicado me dá uma enorme alegria. Parabéns aos autores Simone Rosa Poletto, Letícia Costa Rebello, Maria Júlia Monteiro Valença. Daniele Rossato, Andréa Garcia Almeida, Rosane Brondani, Márcia Lorena Fagundes Chaves, Luiz Antônio Nasi, Sheila Cristina Ouriques Martins por contribuir para a Fisioterapia Nacional.


http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26034487

Até a próxima...





Fernando Acácio Batista

Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Liga da Fisiointensiva
Professor do Aperfeiçoamento teórico da Liga da Fisiointensiva
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI




























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