quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Série Fisiologia Respiratória - Mecanismos de hipoxêmia: Distúrbio ventilação - perfusão


Olá, meu nome é Fernando Acácio Batista e eu sou Fisioterapeuta especialista em fisioterapia em terapia intensiva adulto, além disso sou professor de ventilação mecânica tema que adoro e leciono em algumas especializações. Venho aqui deixar disponível para quem tenha interesse meu curso e e-book.

Cursos de atualizações em VM: https://fernandoabatista34.wixsite.com/website

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Nesta postagem chegamos ao último mecanismo de hipoxêmia e acredito que o mais complexo para os alunos entenderem, porém veremos que não é bem assim


Ao falarmos de ventilação -perfusão (V/Q) temos que entender por partes:
  • V = ventilação.
  • Q = Perfusão.


Ventilação = Alvéolos pulmonares que ventilam. 
Perfusão = Capilares pulmonares que estão com transporte de sangue normais.

V/Q = Ventilação dividido por perfusão, ou seja, sempre nos referimos primeiro a ventilação em relação a perfusão

Distúrbio V/Q = Algum processo que esteja ocorrendo e levando a alguma alteração na ventilação alveolar ou na perfusão capilar

E enquanto aos termos alta V/Q e baixa V/Q?


Quando falamos da relação V/Q ela normalmente é igual a 0,8 ou a 1,0. Isso significa que se eu dividir a ventilação pela perfusão deveria dar 0,8 a 1,0 e isso nos demonstra que a ventilação e a perfusão são sempre presentes. Claro que a relação V/Q muda a depender da região pulmonar, mas ela sempre é constante.

Portanto:
  • Alta V/Q = Significa que temos uma ventilação maior que a perfusão.
  • Baixa V/Q = Significa que temos uma baixa ventilação e uma maior perfusão.


Guardem está informação.



Podemos verificar nesta figura que a relação V/Q regional se difere, onde temos um gráfico demonstrando a base e o ápice pulmonar. Notem que a ventilação é diferente da perfusão
à depender das regiões e ela se tornará igual na zona 2 de WEST. Mas o importante é saber que a ventilação e a perfusão sempre estarão presentes, mesmo que na divisão uma pelo outra ocorra diferenças, mas ambas funcionam juntas, assim ocorrendo as trocas gasosas normais.

E quando essa relação se altera nós temos então o distúrbio V/Q? E como interpretar isso?



Na figura notamos três situações:

Situação B: Nós temos um alvéolo com ventilação normal e um capilar com perfusão normal, assim relação V/Q normais

Situação A: Nós temos um alvéolo que não está recebendo mais ar, pois ele apresenta uma secreção em bronquíolos respiratórios, assim impedindo a entrada e saída de ar, portanto não ocorre ventilação, e temos um capilar com perfusão normal. Portanto, temos um distúrbio V/Q e este distúrbio é chamado de baixa V/Q, pois não temos ventilação e temos perfusão. Ou seja nós temos um sangue que chega venoso e não recebe oxigênio. Porém ao ofertarmos uma fração maior de oxigênio por algum dispositivo de baixo ou alto fluxo a SpO2 do paciente volta a ficar maior que 90%, caracterizando um distúrbio V/Q, pois respondeu a oxigenioterapia. Agora o extremo do lado esquerdo da curva é o Shunt pulmonar, onde teremos muitos alvéolos não ventilados e capilares perfundidos e mesmo com a oferta de oxigênio a 100% não ocorre correção da oxigenação. Então para diferenciarmos o que é Shunt e o que é distúrbio de baixa V/Q basta ser responsivo a oxigenoterapia.



Podemos utilizar a formula na esquerda para calcularmos o distúrbio V/Q de nossos pacientes, o que é uma ferramente não invasiva e de grande valia a beira leito para nosso controle. Sendo primordial para o reconhecimento do distúrbio apresentado pelo nosso paciente.




Situação C: Nós vemos um alvéolo ventilando normalmente, onde recebe oxigênio durante a inspiração, porém temos um capilar sem perfusão, pois está obstruído. Assim chamamos este distúrbio de alta V/Q, pois temos alvéolos ventilando normalmente e capilares que não estão perfundindo este alvéolo devido a uma obstrução ou até a casos de choques. Se formos ao extremo do lado direito da curva teremos o chamado espaço morto alveolar, que se caracteriza por alvéolos que ventilam e não fazem troca, pois os capilares não perfundem (Espaço morto, pois não tem função). Isso é muito comum no TEP e podemos calcular o espaço morto alveolar com o uso da PaCO2 da gasometria e o EtcO2 da capnografia que é o CO2 final expirado pelo paciente.




Está é a formula que podemos utilizar para prever o espaço morto (Equação de Bohr) e seu valor normal fica entre 20 a 30%



Portanto o distúrbio V/Q não é algo impossível de entender e espero ter ajudado vocês nesta série.


John B. West: Fisiologia Respiratória Moderna, 5ª ed - Ed. Manole, 1996, São Paulo-SP
Arthur Guyton: Tratado de Fisiologia Humana, 10ª ed, Guanabara- Koogan, 2002, Rio de Janeiro - RJ


Até a próxima....








Fernando Acácio Batista


Fisioterapeuta
Gestor do Grupo Sancta Maggiore
Co- fundador e Professor da Liga da Fisiointensiva
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Physiocursos Sorocaba
Professor da Especialização em Fisioterapia Intensiva da Inspirar
Especialista em Fisioterapia em UTI Adulto pela ASSOBRAFIR - COFFITO
Especialista em Fisiologia do Exercício pela UniAmérica
MBA emGestão da Qualidade e Acreditação Hospitalar pela UniAmérica
Especialização em Fisioterapia Respiratória pela ISCMSP
Especialização em Fisioterapia em UTI pelo HFMUSP
Mestre em Terapia Intensiva pelo IBRATI






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